Genética recreativa: os testes genéticos direct-to-consumer em Portugal
Capa Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário v.9 n.3
PDF
XML

Palavras-chave

Testes genéticos
Medicina de precisão
DNA

Como Citar

1.
Genética recreativa: os testes genéticos direct-to-consumer em Portugal. Cad. Ibero Am. Direito Sanit. [Internet]. 29º de setembro de 2020 [citado 6º de dezembro de 2024];9(3):123-52. Disponível em: https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/article/view/655

Resumo

Objetivo: o escopo do artigo é trazer a reflexão sobre o uso de testes genéticos direct-to-consumer, sobretudo em Portugal, que apesar da vedação pela legislação local, podem ser adquiridos pela internet. Metodologia: foi utilizado método dedutivo a partir da análise da literatura científica existente em revistas da especialidade e em legislações internacionais e portuguesa, com maior atenção aos desenvolvimentos nos Estados Unidos, por ser o país que sedia o maior número de empresas e laboratórios que comercializam testes genéticos direitos ao consumidor. Resultados: apesar de vedado pela lei nacional, qualquer pessoa consegue hoje requerer um kit DNA pela internet, sobretudo em sites americanos, em que viabilizam os testes genéticos a preços módicos. Qualquer pessoa pode remeter uma amostra feita por autocoleta de esfregaço oral pelo correio, e após um breve cadastro no site da empresa, passará a receber notificações com informações relativas a sua constituição genética. Em outros países, a pesquisa sobre testes genéticos diretos ao consumidor já é exaustiva, encontrando várias deficiências na sua prática, sobretudo quanto ao consentimento informado e à fiabilidade dos resultados, já que muitos estudos demonstram a disparidade de resultados para uma mesma amostra quando submetida a diferentes laboratórios. Em Portugal, o tema ainda é bastante escasso, e apesar de proibido, esses testes são de fácil acesso. Conclusão: é imprescindível refletirmos sobre a submissão a testes genéticos e as implicações que os mesmo têm, não só na vida de quem se submete ao teste, mas também daqueles que compartilham o material genético, sobretudo em situações de testes genéticos diretos ao consumidor em que não há prévio aconselhamento.

PDF
XML

Referências

Iriart JAB. Medicina de precisão/medicina personalizada: análise crítica dos movimentos de transformação da biomedicina no início do século XXI. Cadernos de Saúde Pública. 2019; 35 (3):1-14. DOI: 10.1590/0102-311X00153118

Cruz ACG. Base de Dados Genéticos. Nascer e Crescer: Revista do Hospital de Crianças Maria Pia. 2019; XVIII (4):275-282. Disponível em: http://repositorio.chporto.pt/bitstream/10400.16/1430/1/BaseDados_18-4.pdf

Phillips KA, Trosman J, Kelley RK, Pletcher MJ, Douglas MP, Weldon CB. Genomic Sequencing: Assessing The Health Care System, Policy, and Big-Data Implications. Health Affairs. 2014; 33 (7):1246-1253. DOI: 10.1377/hlthaff.2014.0020.

What is the Human Genome Project? National Human Genome Research Institute. Disponível em: https://www.genome.gov/human-genome-project/What

Horton RH, Lucassen AM. Recent developments in genetic/genomic medicine. Clin Sci (Lond). 2019; 133 (5):697-708. DOI: 10.1042/CS20180436

Berkman B. Refuting the Right not to Know. Journal of Health Care Law & Policy. 2017; 19(1):1-71. Disponível em: https://digitalcommons.law.umaryland.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1340&context=jhclp

Jen MY, Varacallo M. Predictive Medicine. StatPearls Publishing. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441941/

Pascal S. Direct-to-Consumer Genetic Testing: A Comprehensive View. Yale Journal of Biology and Medicine. 2013; 86:359-365. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3767220/

Clayton EW, Evans BJ, Hazel JW, Rothstein MA. The law of genetic privacy: applications, implications, and limitativos. Journal of Law and the Biosciences. 2019; 8:1-36. DOI: https://doi.org/10.1093/jlb/lsz007

Via M. Big Data in Genomics: Ethical Challenges and Risks. Revista de Bioética y Derecho. 2017; 41:33-45. Disponível em: http://scielo.isciii.es/pdf/bioetica/n41/1886-5887-bioetica-41-00033.pdf

Fündling C. The Right to Know and the Right Not to Know in Genetic Diagnosis. 1-7. http://www.imgwf.uni-luebeck.de/klausurwoche/data/handout/Fuendling_handout.pdf

Portugal. Lei n.º 12/2005 de 26 de janeiro. Informação genética pessoal e informação de saúde. Diário da República.

Lea DH, Williams J, Donahue P. Ethical Iissues in Genetic Testing. J Midwifery Womens Health. 2005; 50 (3):234-240. Disponível em https://www.medscape.com/viewarticle/505222_1

Schroeder A. Das Recht auf Nichtwissen im Kontext prädiktiver Gendiagnostik: Eine Studie zum ethisch verantworteten Umgang mit den Grenzen des Wissens. VS Verlag für Sozialwissenschaften; 2015.

Marchesini S. Direito de Não Saber: breves notas. Anais do I Webcongresso de Direito Sanitário. 2017; 6(suplemento parte 4):908-916. Disponível em: https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/article/view/450/507

Prainsack B. DIY: the right to know your own genome, In Chadwick R, Levitt M, Shickle D (Eds.). The Right to Know and the Right Not to Know: Genetic Privacy and Responsibility. Cambridge: Cambridge University Press. 2014. p. 100-115. DOI:10.1017/CBO9781139875981.010

Harris A, Kelly SE, Wyatt S. Counseling Customers: Emerging Roles for Genetic Counselors in the Direct-to-Consumer Genetic Testing Market. J. Genetic Counseul. 2013; 22:277-288. DOI: 10.1007/s10897-012-9548-

DTC genetic testing market poised to grow with a double digit CAGR during the forecast period. Credence Research. 2018. Disponível em: https://www.credenceresearch.com/report/direct-to-consumer-genetic-testing-market

Goldsmith L, Jackson L, O´Connor A, Skirton H. Direct-to-consumer genomic testing: systematic review of the literature on user perspectives. European Journal of Human Genetics. 2010; 20(8):811-816. DOI: 10.1038/ejhg.2012.18

Phillips A. Only a click away - DTC genetics for ancestry, health, love … and more: a view of the business and regulatory landscape. Applied Translational Genomics. 2016; 8:16-22. DOI: 10.1016/j.atg.2016.01.001

Borry P, Cornel MC, Howard HC. Where are you going, where have you been: a recente history of the direct-to-consumer genetic testing market. J Community Genet. 2010; 1(3): 101-106. DOI: 10.1007/s12687-010-0023-z.

Bryant T. Global study on direct-to-consumer genetic testing market size, share and demand outlook 2016 to 2022 – credence research. Salisonline. 19 dez 2016 [Acesso em 30.mar.2020]. Disponível em: http://www.salisonline.org/genetic-testing-market/

Smith C. Direct to consumer genetic testing market (DTC) to hit US$ 611.2 Mn by 2026: size and forecast, credence research. http://dailytransparent.com/news/direct-to-consumer-genetic-testing-market-dtc-to-hit-us-611-2-mn-by-2026-size-and-forecast-credence-research/0166265

Turrini M, Prainsack B. Beyond clinical utility. The multiple values of DTC genetics. Applied & Translational Genomics. 2016; 8:4-8. DOI: 10.1016/j.atg.2016.01.008

Tandy-Connor S. False-positive results released by direct-to-consumer genetic tests highlight the importance of clinical confirmation testing for appropriate patient care. Genetic in Medicine. 2018; 20 (12): 1515-1521. Disponível em: https://www.nature.com/articles/gim201838

Hall J, Gertz R, Amato J, Pagliari C. Transparency of genetic testing services for «health, wellness and lifestyle»: analysis of online prepurchase information for UK consumers. European Journal of Human Genetics. 2017; 25 (8):908-917. DOI: 10.1038/ejhg.2017.75.

Ommen GB, Cornel MC. Recreational genomics? Dreams and Fears on genetic susceptibility screening. European Journal of Human Genetics. 2008; 16:403–404. Disponível em: https://www.nature.com/articles/ejhg200832

Gullapalli RR. e colaboradores. Next generation sequencing in clinical medicine: challenges and lessons for pathology and biomedical informatics. J. Pathol Inform. 2012; 3(40). DOI: 10.4103/2153-3539.103013

Laestadius LL, Rich JR, Auer PL. All you data (effectively) belong to us: data practices among direct-to-consumer genetic testing firms. Genetics in Medicine. 2017; 19 (5):513-520. Disponível em: https://www.nature.com/articles/gim2016136

Jail term for fake DNA tests boss. BBC News. 24 set 2004 [Acesso em 30.mar.2020]. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/england/dorset/3686864.stm [Acesso em 30.mar.2020]

Ortiz AP, López M, Flores LT, Soto-Salgado M, Rutten LJF, Serrano-Rodriguez RA, et al. Awareness of Direct-to-Consumer Gentic tests use for genetic tests among Purto Rican adults, 2009. Preventing Chronic Disease, Public Health Research, Practive, and Policy. 2011; 8 (5): A110. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181183/

Brett GR, Metcalfe SA, Amor DJ, Halliday JL. An exploration of genetic health professionals´ experience with direct-to-consumer genetic testing in their clinical practice. European Journal of Human Genetics, 2012; 20: 825-830. Disponível em: https://www.nature.com/articles/ejhg201213

Evans JP. Recreational genomics; what´s in it for yo? Genet. Med. 2008; 10(10):709-710. DOI: 10.1097/GIM.0b013e3181859959

United States of America, Before the Federal Trade Comission, 2014 [Acesso em 30.mar.2020]. Disponível em: https://www.ftc.gov/system/files/documents/cases/140512genelinkcmpt.pdf

Moody O. DNA testers tell dog to take up basketball. The Times Sect. Science. 5 Mai 2018 [Acesso em 30.mar.2020]. Disponível em: https://www.thetimes.co.uk/article/doubts-over-dna-tests-after-company-fails-to-spot-its-client-was-a-dog-zpwhwr9m5

Surbone A. Social and ethical mplications og BRCAtesting. Annals of Oncology. 2011; 22, supp.1:I-60-I66. DOI: https://doi.org/10.1093/annonc/mdq668

Otero JMM. Better not to know?: Justificable limits on the right to inofrmation in the realme of DTC genetic testing. An analysis of the European and Spanish Legal Framework. European Journal of Health Law. 2017; 24(2):175-197. DOI:10.1163/15718093-12023441.

Moscarello T. Direct-to-consumer raw genetic data and third-party interpretation services: more burden than bargain? Genetics in Medicine. 2019; 21(5):539-541. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41436-018-0097-2

Graeme L. In defense of ignorance: Genetic infotmation and the right not to know”, European Journal Health Law. 1999; 6:119:132. Disponível em: https://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/eurjhlb6&div=19&id=&page=

Jan D. Patient rights, risk, and responsabilities in the genetic era – a right to know, a right not to know, or a duty to know? Annals of Agricultural and Environmental Medicine. 2015; 22(1):156-162. DOI: 10.5604/12321966.1141387

Ray T, Thimas UG. Startup Guardiome Emphasizes Privacy in New WGS Consumer Offering. Genomeweb. 29 dez 2015 [Acesso em 30.mar.2020]. Disponível em https://www.genomeweb.com/sequencing/startup-guardiome-emphasizes-privacy-new-wgs-consumer-offering#.XnN9qqj7SiM

Santos HG, Pereira AGP. Genética para todos: de Mendel à Revolução Genómica do Século XXI: a prática, a ética, as leis e a sociedade. Lisboa: Gradiva; 2019.

Silva ARVS. Testes genéticos de venda direta ao consumidor (Questões ético-legais no mercado português) Dissertação de Mestrado. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública, 2014.

Portugal. Decreto-Lei n.º 131/2014, de 29 de agosto. Regulamenta a Lei n.º 12/2005, de 26 de janeiro, no que se refere à proteção e confidencialidade da informação genética, às bases de dados genéticos humanos com fins de prestação de cuidados de saúde e investigação em saúde, às condições de oferta e realização de testes genéticos e aos termos em que é assegurada a consulta de genética médica. Diário da República.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Copyright (c) 2020 Sephora Luyza Marchesini Stival