Considerações ético-legais sobre a sedação paliativa: a discussão que a pandemia trouxe à tona no norte do Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17566/ciads.v12i2.957

Palavras-chave:

Sedação Profunda, Cuidados Paliativos, COVID-19, Bioética, Princípio do Duplo Efeito

Resumo

Objetivo: analisar o cabimento ético-legal da sedação paliativa, distinguindo-a de condutas que possam ser consideradas eutanásicas e, portanto, penalmente vedadas pelo ordenamento jurídico pátrio e tradicionalmente rechaçadas pelos Códigos de Ética profissionais. Metodologia: mediante pesquisa exploratória bibliográfica, a partir de obras doutrinárias especializadas no tema dos conceitos associados a fim de vida e da disciplina normativa vigente, o estudo buscou cotejar o uso da sedação paliativa com outras condutas e situações relacionadas a terminalidade e morte, de sorte a procurar identificar com maior clareza a qualificação ética e jurídica da prática, sua relevância e licitude no campo dos cuidados paliativos. Resultados: verificou-se que, em meio à crise pandêmica, situações de mistanásia por carência de recursos nas unidades de saúde do estado do Amazonas levaram a uma indevida confusão na compreensão social entre sedação paliativa e eutanásia, impondo-se a necessidade de esclarecer os conceitos e limites entre as condutas. Conclusão: constatou-se a possibilidade jurídica de sedação paliativa como conduta ética e legal, desde que exercida dentro das exigências da boa prática clínica, sem intenção de deliberado encurtamento vital.

Submissão: 12/07/22 | Aprovação: 22/05/23

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Biografia do Autor

  • Maria Elisa Villas-Bôas, Universidade Federal da Bahia

    Professora associada; doutora em Direito Público, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. E-mail: mariaelisavb@gmail.com

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Publicado

06-06-2023

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Seção

ARTIGOS

Como Citar

1.
Considerações ético-legais sobre a sedação paliativa: a discussão que a pandemia trouxe à tona no norte do Brasil. Cad. Ibero Am. Direito Sanit. [Internet]. 6º de junho de 2023 [citado 27º de abril de 2024];12(2):50-63. Disponível em: https://www.cadernos.prodisa.fiocruz.br/index.php/cadernos/article/view/957